sábado

Praça

Vagava sem direção nem porquê. Olhava o mundo a sua volta sem enxergar, sem entender a razão da pressa e do caos. Entregava seu corpo ao prazer da maré humana que transitava apressada no centro da cidade. Seguia divagando tempo e espaço até deixar-se cair no banco da praça. Pacata ilha isolada da babel urbana.

Ali o presente era atemporal e sua posição era elevada. Respirava o ar cinza em meio as árvores escassas e olhava o céu escondido entre o concreto. Libertava-se das pretensões de ouro e felicidade vazia. E então pairava sobre ele uma quietude.

Por quinze minutos diários se permitia esquecer da sua vida burguesa e de seus sonhos frustrados de revolução. Atrevia-se a imaginar-se outro, em outra lida, outro rumo.
Vivia duplamente em doses homeopáticas.

E depois retornava ao seu trabalho.

Durante anos e anos consumiu sua realidade sob a ótica do remediado. Até certo dia, em que se surpreendeu ao responder sem pensar que seu hobby preferido era viver. E a revelação de sua resposta o invadiu.

Sinto falta daquela figura, que timidamente tentava esconder sua luz sob uma peneira. E acabou queimado.

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