sábado

Insônia

Já era tarde da noite e ele continuava aceso.
Desistira de tentar dormir. A insônia era sua companhia há anos. Tentara de tudo, soníferos, florais, reik, acupuntura, hipnose e até macumba.
Sua esposa roncava ao seu lado e já não se incomodava mais. Ele zanzava noite adentro em seus pijamas. Vestia-os como quem se cobre com um manto ritual, para tentar convencer sua mente de que ela precisava descansar. Em geral, dormia por não mais que 3 horas. E logo o galo cantava e ele se arrastava em sua rotina diária. Ostentava grandes olheiras sob os olhos. Estava sempre cansado, sem ânimo e sorria com a freqüência que um esquimó veste bermuda.
Numa daquelas rotineiras noites, ao entrar no banheiro para aliviar sua bexiga ele olhou no espelho e levou um susto. Em cima de sua cabeça estava um elefante. Era pequeno, como nos desenhos que seu filho assistia na televisão, e animadamente mexia sua tromba pra um lado e para o outro.
Procurou a qualquer custo tira-lo dali. Tomou um banho, enxaguou bastante a cabeça e nada. Entornou um vidro de pimenta que deslizou oleosamente sobre a sua careca, deixando-a apenas mais reluzente. Seu “amigo” ainda lá, acertando continuamente seus olhos e mantendo-os bem abertos e escurecidos.
Pensou em oferecer comida, mas não sabia as preferências alimentares de tão grande e diminuto mamífero e desistiu da empreitada. Deitou-se no sofá tentando encontrar uma forma de livrá-lo desse fardo. Consultou um veterinário, que riu de sua história e recomendou a visita a um psiquiatra. Desconsolado, começou a assistir o Animal Planet na esperança de acalmar seu companheiro e pelo menos poder raciocinar melhor.
Resignado, não queria mais sair de casa. Certo dia foi praticamente obrigado a acompanhar sua família ao circo. E logo após o modorrento show do domador de animais surpreendeu-se dando algumas risadas com as bobagens apresentadas por palhaços mal vestidos. Naquela noite, achou estranha a sonolência ao chegar em casa e dormiu quase instantaneamente ao se deitar na cama. Um sono pesado que durou quase 24 horas.
Desde então vive sorridente e adquiriu um ar jovial, de noite bem dormida. E apesar dos ataques histéricos de seu filho, não freqüenta mais o zoológico aos domingos, prefere não arriscar.

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