quarta-feira

Minas e eu

"Minas não é palavra montanhosa.
É palavra abissal.
Minas é dentro
E fundo"
Carlos Drummond de Andrade

Quando morei em Belo Horizonte achei que havia encontrado no Brasil o lugar mais regionalista de todos. Não é qualquer povo que entoa com tanta vaidade “sou do mundo, sou Minas Gerais”. O Mineiro faz questão de assinar seu orgulho em tantas marcas que entoam MIG, MG ou qualquer outra referência similar ao Estado. É um grito quase discreto que estampa “em mim você pode confiar”. Um contraponto com a desconfiança característica da região. Ouvi certa vez uma explicação histórico-geológica para ali ser taxada de culpada até prova contrária: nos idos do século XVII as lindas montanhas que cercam o Estado podiam esconder ladrões que vinham atrás do ouro das Minas Gerais. Assim o mineiro aprendeu, de pai para filho, a olhar qualquer estranho de soslaio.

Aprendi a viver Minas e a curtir a descoberta dos maneirismos e expressões típicas. Observar costumes e tradições tão opostas à minha realidade. Eu, que nasci e cresci numa cidade sem esquinas, não consegui assimilar facilmente as tortuosidades irregulares da paisagem e das relações. Venho de um lugar onde as ruas não têm nome, os endereços mais parecem equações matemáticas e a amplitude nos faz cerrar os olhos de tanta claridade. Curiosamente foi um Presidente de origem mineira que revolucionou a história do país ao apontar no mapa um ponto no meio do Planalto Central e decidir que ali seria construída a nova Capital. Uniu imigrantes de vários estados para erguer esse sonho no e do nada. Esses candangos trouxeram consigo o tudo de sua região e na nova cidade renasceu um Brasil de várias facetas.

Observando atentamente essa mistura descobrem-se muitos os “Brasis regionais” e que não somente os mineiros exaltam suas belezas. Os baianos afirmam categoricamente que não existe povo mais alegre, paulistas se orgulham da força do trabalho, cariocas da malandragem e da cidade maravilhosa e por aí vai. De norte a sul desse imenso país cada oriundo defende as destrezas e belezas de seu pedaço delimitado de terra, seja ele onde for.
E eu, que não fico de fora, sorrio discretamente e pergunto desconfiada, porque então JK não escolheu BH?

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